Alguém me esperava na porta de casa, sentado. Aproximei-me, percebi que alguém ao menos sentiu minha falta, e pelo o que parece estava esperando minha chegada. Cheguei mais perto e me abaixei para acariciar o animal que lembrava ainda que eu existia, ele me lambeu e pulou a minha volta. Será esse o sentido de saudade? Nunca havia se importado muito com essa historia de ‘”i miss you”, saudade era utopia, uma palavra inventada por brasileiros.
Olhei para dentro, não havia mais ninguém, será que haviam se mudado e deixado o cachorro para avisar-me? Lembrei que ninguém morava ali a um bom tempo, desde que sai deixei a casa vazia repleta de poeira. A louça ainda suja na pia, o café ainda na térmica, o chão repleto de sujeira e pequeno insetos, andar dentro de casa era como colocar uma meia mergulhada em um esgoto, suja, úmida e pútrida. Deveria ao menos ter deixado a chave com alguém nesse meio tempo para dar uma limpada no cômodo.
Depois que coloquei minhas coisas no chão, sentei-me no sofá e coloquei os pés sobre a mesa. Liguei a televisão e para isso tive que soprar a poeira do controle para enxergar a tecla “on”. O amigo que me esperava na porta deitou-se ao meu lado, perguntei-lhe como havia passado o dia esperando que houvesse uma resposta. Era o que eu procurava durante toda a vida, mais que emoções, mais que sentimentos, queria respostas acima de tudo. Porque ainda morava sozinha? Porque ainda estava sozinha? Eu e minha xícara de café, meu cigarro e meu cachorro.
Lavei a louça, limpei a casa, tomei um banho. Fazia quanto tempo que tinha me ausentado? Não muito, apenas deixei que as coisas ficassem assim, intactas, sem serem limpas, ou arrumadas, minha casa traduzia como eu era, congelada no tempo.
No correio havia contas, ninguém tinha me mandado uma carta perguntando como eu havia andado? No mínimo se cansaram de perguntar e resolveram que eu vivesse sozinha a minha vida, nem se preocupam mais, ou talvez tenham apenas perdido o papel onde estava anotado o endereço.
Ainda havia o jornal de hoje, li, noticias sempre as mesmas, tragédias, e as notícias boas eram banais e tão mesquinhas que não deveriam nem aparecer na revista mais fútil já publicada.
Fui deitar, era assim que se transcorria meu dia, chegava do trabalho, meu amigo me esperava latindo na porta imunda, limpava a poeira do controle imaginariamente, achando que aquele vazio dentro de casa era porque simplesmente tinha me ausentado por alguns anos. E finalmente ia dentar, na cama, sozinha.

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