sexta-feira, junho 10, 2011

Ligação

Liguei mais de uma vez, deixei umas três mensagens na caixa postal. Nada, chamava e a única voz que eu ouvia era da secretaria eletrônica.
Noite passada havia tido mais um de meus devaneios, novamente deixei que o desejo falasse mais alto que a razão. Meu deus, quantas vezes prometi a mim mesma nunca mais recordá-la. Mas enquanto eu me prometia o impossível, meu telefone tocava e eu ia correndo atender – alô, quem é? – esperando que eu reconhecesse a voz rouca do outro lado, esperando que não fosse um simples engano, ou uma amiga querendo um livro emprestado.
Não era tão simples quanto eu pensei, antes de apagar o número da agenda passei os olhos umas sete vezes pelo nome para ter certeza que eu havia decorado o telefone. A esperança incomodava-me, achar que ela ia ligar e esperar por isso estava me matando, talvez se eu tivesse certeza que ela jamais ligaria novamente eu me acalmasse e parasse de me torturar. Percebi então que tinha que trocar de número, nesse caso ela não saberia meu telefone e não ligaria. Em duas semanas meu número era outro, por exatamente trinta e três minutos senti-me aliviada, não esperava que o telefone tocasse, e se tocasse eu poderia gentilmente não atender ou ir devagar ao seu encontro. Depois passado o alivio, veio o pavor, e se ela estivesse tentando ligar nesse exato momento e não estivesse conseguindo? Estraguei tudo, ela queria ligar, e era eu que não estava deixando. Como ela poderia falar comigo agora? Se visse que eu mudei de numero sem avisar já acharia que eu a tinha esquecido e a aniquilado da minha vida. Não, eu não poderia deixar isso acontecer, precisava avisar, ela tinha que saber que eu esperava sua ligação, que não a tinha aniquilado da minha vida. Então resolvi eu mesmo ligar, como quem não quisesse nada, procurando um assunto e no final dizer – viu, troquei de numero, se quiser alguma coisa é só ligar.
Decidi então ligar, peguei o telefone e minhas pernas começaram a tremer, fazia tempo que eu não ouvia sua voz. E que pretexto ia usar para ligar assim, como quem não quer nada. Eu não poderia esperar muito, talvez  ela estivesse tentando me ligar naquele momento e por burrice minha tinha a impedido de falar comigo. Depois de dar varias voltas pelo sofá e tirar o telefone do gancho várias vezes, disquei o telefone decorado na memória. Nenhuma resposta.
Liguei mais de uma vez, deixei umas três mensagens na caixa postal. Nada, chamava e a única voz que eu ouvia era da secretaria eletrônica.
Tentei me acalmar, talvez ela estivesse trocado de numero e não teve como me avisar.

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